Quando as causas de morte no mundo são estudadas, as chamadas “causas externas” ocupam a quarta posição (cerca de 11%). São precedidas pelas doenças cardiovasculares (cerca de 31%), pelas doenças infecciosas e parasitárias (cerca de 18%) e pelas neoplasias (cerca de 13%).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as causas externas são responsáveis por taxas de mortalidade mais elevadas na população jovem, do sexo masculino e que vive em países pobres. Aliás, a análise das diferentes regiões do mundo revela um panorama ilustrativo.
Na África, as causas externas representam a segunda causa de morte e as causas etiológicas mais freqüentes são as guerras e os homicídios. Na Europa, nas Américas, nos países do Leste do Mediterrâneo e nos do Sudeste da Ásia, as causas externas constituem-se na terceira causa de morte. Entretanto, o perfil etiológico modifica-se substancialmente de região para região. Na Europa e nas Américas predominam os assim denominados “acidentes” por veículos automotores, em sua maioria colisões e atropelamentos. Nos países do Leste do Mediterrâneo as guerras são o agente etiológico que mais se destaca, com mais de 35% do total. No Sudeste da Ásia, as diferentes causas etiológicas, intencionais e não-intencionais, distribuem-se de maneira mais uniforme. Nos países do Pacífico, as causas externas são a quarta causa de morte e, curiosamente, a maioria destacada das mortes (mais de 30% do total) deve-se a suicídio.
Esta heterogeneidade torna-se ainda mais explícita se focalizarmos, especificamente, os países das Américas. Na América do Norte e nos países do Cone Sul (exceção feita ao Paraguai), os óbitos por causas externas situam-se na faixa de 6 a 7%, e o coeficiente de mortalidade por 100 mil habitantes é da ordem de 55 a 60. As mortes resultam, em proporção consistente, de colisões e atropelamentos, suicídios e quedas. México e Brasil guardam uma razoável semelhança: óbitos por causas externas na faixa de 12 a 13%, coeficiente de mortalidade por 100 mil habitantes de 65 a 70 e causa etiológica mais comum, o homicídio.
O Caribe Inglês parece-se com a América do Norte e o Caribe Latino assemelha-se ao México e ao Brasil. A área Andina é uma catástrofe. As taxas praticamente duplicam-se, e cerca de 50% das mortes estão relacionadas a homicídios. Os dados disponíveis não permitem evidenciar qualquer correlação significativa entre taxas de mortalidade por causas externas e PIB anual per capita, gasto total em saúde ou número de médicos por 10.000 habitantes.
Comentário
Estas informações permitem supor que, sob a denominação genérica - causas externas - incluem-se, em realidade, várias doenças que refletem o perfil cultural, social e econômico da população. Faz-nos entrever, outrossim, que estratégias visando à prevenção não podem ser padronizadas, mas devem considerar as peculiaridades locais. Se voltarmos nossa atenção para o Brasil, encontraremos nas diferentes regiões, diferenças marcantes que ilustram claramente os impactos da cultura, do nível de urbanização, das condições sociais e econômicas. Seria interessante correlacionar as taxas de morbidade e mortalidade por causas externas com os investimentos feitos em educação. Talvez esta informação fosse importante e nos permitisse entrever soluções.
Dário Birolini*
Fonte:
Rev Ass Med Brasil 2001; 47(1): 1-23 3 - Panorama Internacional / Clínica Cirúrgica
Texto reproduzido na íntegra. Enviado por Diogo Mendonça**
*Professor Titular de Cirurgia do Trauma. Hospital das Clínicas da U.S.P
** Enfermeiro da Emergência do Hospital Quinta D'or e Pós-graduando em Emergência.
Um comentário:
Por que nao:)
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