31 de janeiro de 2008

Morticínio Programado


Evolução dos homicídios no país

Na década decorrida entre os anos de 1993 e 2002 o número total de homicídios registrados pelo SIM (Sistema de Informações Sobre Mortalidade) no país passou de 30.586 para 49.640, o que representa um aumento de 62,3%, várias vezes superior ao incremento populacional, que foi de 15,2% no mesmo período.
Pelo
gráfico 3.1.1, pode-se apreciar que, depois de pequenas oscilações nos dois anos iniciais do período considerado, o crescimento dos homicídios tem evidenciado uma assustadora regularidade, com incrementos bem elevados, em torno de 5,5% ao ano.

Em termos regionais (
ver tabela 3.1.1), os maiores aumentos registram-se nas regiões centro-oeste (73%) e sul (69,8%). Observando as Unidades Federadas, ficam evidentes modos de evolução altamente heterogêneos, com extremos que vão de Amapá, Ceará, Piauí, Minas Gerais e Mato Grosso, onde os índices decenais mais que duplicaram; até UFs como Rondônia, Rio Grande do Norte, Bahia ou Distrito Federal, onde o incremento decenal ficou em torno de 20%.

Já a
tabela 3.1.2 permite acompanhar a evolução do número de homicídios na população jovem do país. Em primeiro lugar, podemos verificar que o aumento decenal nessa faixa etária (88,6%) foi bem superior ao experimentado pela população total (62,3%). Essa é uma primeira evidência que permite afirmar que a escalada da violência homicida no país avança vitimando preferencialmente a sua juventude. Em todas as regiões do país o aumento decenal das vítimas jovens é maior do que o aumento registrado na população total.

Pela mesma tabela pode-se apreciar que, se não existem grandes diferenças regionais quanto ao incremento no número de homicídios juvenis na década, há unidades federadas nas quais o incremento decenal foi bem acentuado. Goiás e Mato Grosso, na região centro-oeste; Paraná, na região sul; Minas Gerais, no sudeste; Alagoas, Ceará, Piauí, Paraíba e Sergipe, no nordeste e Amapá, Pará, Roraima e Tocantins, na região norte, são os estados que mais duplicaram o volume absoluto de homicídios juvenis na última década.

As taxas de homicídios (por grupo de 100.000 habitantes) permitem relacionar o número de homicídios com o total da população, do que resulta um indicador sobre os níveis relativos de incidência, quando comparadas áreas com diferentes magnitudes populacionais.

Pela
tabela 3.1.3 é possível observar que a taxa do país, em 1993, foi de 20,3 homicídios por 100.000 habitantes. Essa taxa experimentou um aumento gradual, com diversas oscilações ao longo do período, passando já, em 2002, para 28,4 homicídios em 100.000 habitantes.

As maiores taxas de homicídios (acima de 50 em cada 100.000 habitantes) no ano de 2002, registram-se nos estados de Rio de Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo. As menores (em torno de 10 homicídios em 100.000 habitantes) em Santa Catarina, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte.

Se as taxas de homicídios de jovens em 1993 já eram bem mais elevadas do que as da população total (20,3 em 100.000 para a população total, 34,5 para jovens), dez anos depois as diferenças cresceram mais ainda. Se as taxas da população total cresceram 39,4% na década, as taxas juvenis cresceram a um ritmo superior: 58,2%. Com isto, entre os jovens, a taxa elevou-se para 54,7 homicídios em 100.000 no ano 2002.

Entretanto, como pode ser visto pela
tabela 3.1.4, a situação entre estados e regiões é altamente heterogênea. Num extremo, em estados como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco, a taxa de mortalidade juvenil supera o marco dos 100 óbitos por 100.000 jovens. Num outro extremo, em estados como Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Maranhão, a taxa é pouco superior a 15 homicídios em 100.000 jovens.

Melhor visualização da situação dos homicídios nos estados pode ser obtida na
tabela 3.1.5, que ordena as UFs pelas taxas de homicídios (em 100.000) por habitantes, tanto para a população total quanto para a faixa de 15 a 24 anos de idade, nos anos extremos da década analisada. Em geral, pode-se perceber que não existem diferenças dramáticas de posição relativa das UFs. Estados que tinham, em 1993, as maiores taxas do país, continua em 2002, o mesmo acontecendo com as UFs que tinham baixas taxas. As exceções podem ser as escaladas de Mato Grosso e Amapá.

Extraído do estudo: WAISELFISZ. J.J. - Mapa da Violência IV – Os Jovens do Brasil – Juventude, violência e cidadania. (
Conheça clicando aqui).

Dois dias atrás, Julio Jacobo Waiselfisz, apresentou mais um aterrorizante estudo sobre a violência Brasileira – Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros – no qual aponta que o número de homicídios aumentou 20% entre os anos de 1996 e 2006, sendo que entre jovens de 15 a 24 anos a taxa de homicídios cresceu 31,3%, chegando a ceifar 17.312 vidas de jovens em 2006. Lamentável!

Mesmo com a subnotificação de mortes por causas violentas no Brasil, os números de jovens assassinados pela estupidez são assustadores. Todos esses estudos confirmam o morticínio programado da população jovem brasileira. Qual será o prognóstico de 2008?



Update: Mapa da Violência 2011 - aqui


(Por Paulo Pepulim)

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