18 de outubro de 2007

Epidemiologia do Trauma

Epidemiologia do Trauma
Qual é a exata situação atual do trauma como evento médico, social e humano no país? Os números oficiais da Fundação Nacional de Saúde em 2002 são estes: os coeficientes de mortalidade por causas externas tiveram um aumento no período de 18 anos, embora não-­linear, de 23%, ao passar de 59/100.000 habitantes, em 1980, para 73/100.000, em 1998. Isso representa 15% de toda a mortalidade brasileira. E focando-se os últimos dez anos do séc. XX – 1988 a 1998 – foram notificadas 1.182.472 mortes por causas violentas no país. Desde 1990, por ano, as mortes por causas externas oscilaram entre 100 a 120 mil, menos em 1992, quando a quantidade de pessoas que perderam a vida por essa causa foi menor. Em 1998, por exemplo, foram ceifadas 117.600 vidas, por violências e acidentes, das quais quase 50 mil eram de jovens.

Houve uma elevação da mortalidade proporcional por causas externas em todas as faixas etárias; nas idades de 10 a 19 e de 20 a 29 elas respondem por 70% de todos os óbitos ocorridos. Lesões e envenenamentos foram a causa de 17,1% das internações de jovens de 10 a 19 anos em 1999; entre 20 e 29 anos essa proporção foi de 14,3%. A maioria da população internada era de jovens do sexo masculino, evidenciando a gravidade dos fatores sociais adversos para sua saúde. A maioria dos traumas e lesões que levam às urgências, emergências e a internações é causada por acidentes de trânsito, conflitos interpessoais e tentativas de homicídio.

A mortalidade por violência entre jovens é um fenômeno masculino: nas faixas de 10 a 19 anos, a relação é de cinco homens para uma mulher; e na de 20 a 29 anos é de 9:1. A causa externa específica que mais cresceu nos últimos 20 anos foram os homicídios com um percentual de 109% mais elevado em 1998 do que em 1980. Além do viés de gênero, o perfil dos homicídios mostra, também, uma discriminação por classes sociais. Embora as informações não permitam inferir renda, levantamentos geo-referenciados e por profissões revelam que são os pobres, moradores de favelas e das periferias urbanas que compõem o perfil da maioria das vítimas. Os suicídios têm pequena significância estatística no conjunto das mortes por causas externas no país, mas também estão em ascensão, tendo aumentado em 23% nos últimos 20 anos; e entre os jovens de 15 a 24 anos esse aumento proporcional foi muito mais expressivo (48%). Em 1998, 65,8% dos homicídios de jovens envolveram armas de fogo.

O indicador Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP), permite avaliar a importância da mortalidade prematura por violências e acidentes como expressão do valor social da morte (Reichenheim e Werneck, 1994). No Brasil, em 1997, as causas externas foram 28,6% dos anos potenciais de vida perdidos pela população em geral, primeira causa de APVP para os jovens.

Extraído do Projeto Trauma 2005-2025 - Sociedade, violência e trauma.
(Conheça o Projeto Trauma clicando aqui)

Nenhum comentário: