6 de setembro de 2007

Biomecânica do trauma


A biomecânica do trauma, mediante o estudo das energias envolvidas no evento, avalia os fatores e mecanismos que provocam o trauma. Sendo útil para estabelecer o mecanismo de lesão, número de vítimas e uma idéia do tipo de lesão que o evento proporcionou.

Energia

A energia está presente em tudo, está presente em nós e nos objetos que manipulamos, em geral, a energia existe em cinco formas físicas: mecânica, química, térmica, radiação e elétrica.
No entanto, essas energias, quando fora de controle tornam-se nocivas, provocando grandes traumas ou até mesmo a morte. O conhecimento das energias envolvidas no trauma pode nos ajudar a suspeitar de lesões graves e suas localizações.

Transferência de Energia

Transferência de energia refere-se à modificação do tipo de energia, por exemplo: Fricção (energia mecânica) contra algum objeto gera calor (energia térmica), ou também apenas a transferência de energia para um corpo diferente. Através da primeira lei de Newton (inércia).
Para avaliarmos melhor a transferência de energia, temos que estudar dois fatores que influenciam em sua transferência, a densidade e a área de superfície.

Densidade

Quanto mais denso o tecido, maior o número de partículas atingidas, portanto, poderemos encontrar lesões mais extensas.
Quanto menor a densidade do tecido, menor o número de partículas atingidas, mas isso não representa diretamente lesões menos extensas, mas menos aparentes. Podemos encontrar tecidos poucos densos, mas com lesões graves, entretanto, com apresentações diferentes.

Área de superfície

Quando há transferência de energia, tanto para um tecido muito denso quanto para um tecido pouco denso, a área de superfície de impacto é determinante para o tamanho da lesão, contudo, não existirá influência direta na gravidade da lesão. Por exemplo, um ferimento proveniente de uma lâmina em que sua área de contato com a pele não é muito grande. No entanto, a trajetória da lâmina pode lesionar grandes vasos, ocasionando ferimentos com risco de morte.

Formação de cavidades

Durante a transferência de energia para um tecido podemos observar a formação de dois tipos de cavidades: temporária e permanente. De acordo com a cavidade formada podemos encontrar ferimentos com perfis diferentes.

Cavidade temporária

A cavidade temporária forma-se no momento do impacto. É comum observarmos este efeito em tecidos moles por serem elásticos. Durante a transferência de energia as partículas do tecido atingido se afastam, mas, por sua elasticidade, elas retornam a posição prévia (veja um exemplo aqui). Em contrapartida, todas as estruturas que sofreram o deslocamento, frequentemente, são lesionadas. A cavidade temporária pode ser encontrada em traumas fechados e em traumas penetrantes, por exemplo, ferimento por arma de fogo.
Por ser uma cavidade temporária, essa não está visível quando o socorrista examina a vítima, portanto, avaliar as energias envolvidas no evento e correlacionar com possíveis lesões são passos fundamentais na avaliação da biomecânica.

Cavidade permanente

A cavidade permanente também forma-se no momento do impacto, podendo acometer tecidos elásticos ou não. Durante a transferência de energia as partículas do tecido atingido se afastam, mas, por perda de substância, não retomam sua forma original. Por ser lacerante, a cavidade permanente, na maioria das vezes, é facilmente identificada. Contudo, os ferimentos perfurantes, pérfuro-cortantes ou pérfuros-contusos, por serem pequenos, podem dificultar a visualização. Além disso, podemos encontrar os dois tipos de cavidades provocados por um único mecanismo de trauma, por exemplo, um ferimento por PAF (projétil de arma de fogo), o qual provoca perda de tecido na trajetória do PAF e cavidade temporária pela penetração em alta velocidade no tecido (veja um exemplo aqui).


(Por Paulo Pepulim)

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